quinta-feira, 6 de março de 2014

UM MENINO CAIPIRA QUE SE FEZ MONGE II PARTE.

FAMILA LUNA NA CIDADE DE AURORA CEARÁ-ANO 1948.
NOTAS ESCRITAS POR PADRE FRANCISCO LUNA TAVARES NOTAS ESCRITAS POR PADRE FRANCISCO LUNA TAVARES
NOTAS ESCRITAS POR PADRE LUNA NOTAS ESCRITAS POR PADRE LUNA

 NOTAS SOBRE O TIO MONGE
 ESCRITAS POR PADRE LUNA,
 MISSÃO VELHA – 1979 –
 MATERIAL DE PESQUISA DA ÁRVORE GENEALÓGICA-

 PESQUISADOR- LUIZ DOMINGOS DE LUNA-
 ENDEREÇO: RUA GENERAL SAMPAIO, 02, AURORA-CE/CEP: 63.360.000


Havia eu escrito algumas observações para serem publicadas em torno de Dom Joaquim Grangeiro de Luna, beneditino, irmão de Minha mãe, falecido santamente no Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro aos 22 de novembro de 1969. Do mosteiro me enviaram uma pasta contendo diversos retratos da família, o seu báculo de jubileu Monástico e entre os documentos da pasta encontrei escrita à lápis em dez folhas de papel almaço, esta sua história autobiográfica, narrando justamente a sua vida até ser ordenado sacerdote em 1910. Antes mesmo de sua morte o querido tio me havia dito que aquelas lembranças ficariam endereçadas para mim, que depois de sua morte o Mosteiro me haveria de remetê-las, o que de fato aconteceu.



Tudo está descrito com muita fidelidade, apesar duma distância de mais de 60 anos no tempo e de centenas de quilômetros no espaço. Nunca aquele cearense esqueceu o seu torrão natal. A irmã Mais nova, mãe de Pe. Luna, de quem fala, viveu em minha companhia, na casa Paroquial de Aurora cega e meio paralítica, até os 90 anos, quando faleceu em 1974.


Santana, a irmãzinha do escritor, ficou em casa de sua irmã Antonia Grangeiro de Luna, casada com Joaquim Carneiro de Luna. Um dos Maiores Problemas para o coração do moço Salustinano era justamente de sua irmãzinha, pois o cunhado era extremamente pobre e sem administração. Enquanto Salustinano estava empregado na casa Sampaio nada faltava à sua maninha porque ele fornecia o que fosse necessário. Era o arrimo da família pobre. Mas quando decidiu fazer-se religioso, sentiu grande dor no coração o deixá-la em tão fraca situação. Ainda assim, comprou uma propriedade no riacho do rosário município da Serra de São Pedro, em lugar denominado picos e deixou o cunhado com a família morando lá. Havia de certo possibilidade de trabalhar. Pouco tempo depois, o terreno foi vendido pelo cunhado, que ficou com a família ao léu.




Da convivência de Salustinano em Barbalha existe um pormenor que merece ser explicado.Aquela tia materna de que ele fala que o fez desistir de emigrar para Manaus, Naninha Grangeiro não tinha filhos, mas, mas adotara uma sobrinha que se tornara muito conhecida, graças aos seus dotes de inteligência e boas maneira. Essa jovem era conhecida por Bandú, mas o seu verdadeiro nome é também Ana Grangeiro Chaves.. Era prima de Salustinano e de minha mãe, porém mais velha do que Salustinano mais de sete anos. Ele morava numa república, trabalhava o dia todo na loja, estudava de noite, mas fazia as refeições em casa de sua tia, na companhia de sua prima Bandú. Esta, já em idade núbil, pode muito bem tr-se apaixonado pelo primo com intenção de casamento, porém não encontrou nenhuma correspondência amorosa por parte do primo. Este certamente enxergava a diferença de idade e como não tivesse ideal de casar-se tão jovem, muito menos o faria com uma moça mais idosa do que ele. Mais não não há razão para uma nota que saiu em jornal do Rio, após a morte de D. Joaquim na qual se afirma que a vocação monástica de Salustinano proveio do fato de não poder casar-se com a prima bandú, rica, cujo pai teria feito tenaz oposição. É certo que Bandú, também não se casando com outro, seguiu depois o caminho andado pelo primo salustinano, encontrando acolhida na congregação das missionárias beneditinas na qual viveu longa existência em Olinda, vindo a falecer em 1968, aos 94 anos de idade...Mantiveram em vida, correspondência epístola como é costume entre dois parentes religiosos e morreram ambos em idade avançadíssima,como bons religiosos de São Bento

Minha mãe sofreu horrivelmente em tal companhia, até quando se casou com meu pai, Agostinho Tavares de Medeiros, em outubro de 1906. Quando o Jovem Monge, Dom Joaquim, cantava sua primeira Missa no Rio de Janeiro, em Milagres se batizava o 2º filho de sua irmã Santana no dia 6 de Janeiro, 1910. Mais adiante é da casa daquele humilde casal, Agostinho e Santana, que saia o 2º padre da família, ordenado em Fortaleza e encardindo na diocese do Crato 1949.

A Decisão do Jovem Salustinano, caixeiro da casa Sampaio de tornar-se Monge beneditino, foi algo de extraordinário que deu o que falar em todo Cariri. Ele era muito conhecido como jovem educado e responsável elogiado pelos próprios patrões que aliás eram também seus parentes. Embora pobre e órfão, Salustinano já cantava com um futuro garantido, pois além de não haver perigo de ser despedido do emprego, ainda se falava entre família que seria possível o casamento dele com ma das filhas de Antonio Sampaio, sócio mais Velho da Firma, e assim o caixeiro passaria a sócio também da grande empresa. Talvez fosse com a intenção de sugerir-lhe esse noivado que alguém da família Sampaio fez notar a salustinano que já estava em idade de casar-se, pois já havia completado 21(vinte e um) anos e pensasse nisto.

Foi portanto, para todos uma grande surpresa, quando em vez de pender para o noivada tão ligeiro, aquele moço declarou que a sua vocação era outra, a vocação religiosa. Ele foi o primeiro a dar esse passo em toda a região do Cariri. Ele mesmo diz em suas notas que os patrões envidaram todos os esforços a fim de demovê-lo daquela loucura, mostrando-lhe de um lado os rigores da vida monástica que ele ia abraçar e de outro lado as vantagens a que ele renunciava com aquele ato. uma das vantagens já se vê era o tal noivado, Outra proposta que fizeram foi que estudasse no seminário de Fortaleza para se ordenar padre secular. A firma Sampaio e irmãos custearia as despesas de seus estudos. Mas ele foi teimoso: compreendeu que seria chamado para a vida monástica e não desistiu por consideração nenhuma. De tudo isto se pode concluir que Salustinano foi um verdadeiro herói na obediência ao chamado divino para ma vida de abnegação e de sacrifício e ninguém mais do que ele se realizou naquela vocação.



Feito Sacerdote aos 4 de janeiro de 1910, no mosteiro do Rio de janeiro para onde escrevera aquela carta de 1902 agora o Jovem Salustinano já havia desaparecido e em seu lugar surgira o monge sacerdote D. Joaquim de Luna. Este Nome de Joaquim é ma homenagem que os filhos de São bento quiseram prestar ao então Bispo do Ceará o grande vulto da história eclesiástica o Brasil. Dom Joaquim José Vieira em cujo território havia o mosteiro de Santa Cruz Na serra do Estevão e a fazenda Juiz no município de Missão Velha. Pertencente a família de São Bento.
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.Contara-me o Cel João Alves Grangeiro e filho adotivo de Madre Benta (Bandú) que a acompanhava a Olinda feito Oblato no Mosteiro daquela cidade e fez até o noviciado, sendo grande amigo de São Um Menino Caipira que se fez Monge [ Dom Joaquim Grangeiro de Luna ] Notas sobre o tio Monge, escritas por Pe. luna, Missão Velha - 1979
Bento em toda sua vida, contava-me ele que antes de ser admitido Salustinano ao noviciado, o abade D. Gerardo teria comunicado que em virtude de seus estudos deficientes e de sua idade já adiantada. Salustinano não seria admitido no noviciado clerical, mas simplesmente seria irmão converso. Que ele refletisse diante de Deus e viesse responder se aceitava essa condição: caso contrário poderia retornar ao século sem nenhum dano pra a ordem.

Nosso jovem depois de rezar e refletir como lhe fora aconselhado, veio dizer ao abade que estava disposto a renunciar ao sacerdócio, contanto que ficasse como membro daquela memorável família até morrer. Estava ali para servir e não para buscar os primeiros lugares na casa de DEUS. Diante de tal franqueza, o velho abade, com lágrimas nos olhos lhe comunicou que aquilo era somente ma provação a mais para verificar o ardor de sua vocação, mas que seu lugar já estava reservado entre os monges de coro, isto é aqueles que além dos votos monásticos ainda seriam coroados com as ordens sagradas. E de fato ele foi admitido ao noviciado, completou os estudos com relativa facilidade, e dentro de sete anos, é-lo sacerdote de DEUS.
Três qualidades distinguiram o jovem monge, para torná-lo um verdadeiro lider no mosteiro, desde os primeiros anos de vida religiosa: 1º) a idade madura, pois ordenou-se aos 28 anos completos; 2º grande prática de comercio que o faria triunfar em qualquer grande cidade, pelos seus conhecimentos, boas maneiras e honestidade; 3º comprovado amor ao mosteiro, tão sonhado por ele, ao qual fizera votos de estabilidade. Por aquela casa ele derramaria o próprio sangue, daria até a própria vida se fosse necessário. E de fato, pode-se calcular que não teria sido influência de D. Joaquim, brasileiro, na cidade do Rio de Janeiro, entre aqueles menos frades estrangeiro que pouco antes a população carioca ameaçara de linchá-los. Quanta Um Menino Caipira que se fez Monge [ Dom Joaquim Grangeiro de Luna ] Notas sobre o tio Monge, escritas por Pe. luna, Missão Velha - 1979
dificuldade aqueles humildes alemães teriam encontrado no comunicar-se com o carioca se não fosse D. Joaquim Grangeiro de Luna como intérprete e intermediário.
Houve um incidente no mesmo ano da sua ordenação (4 de Janeiro 1910) que o imortalizou não só entre os co-irmãos, mas o colocou nas páginas de nossa história pátria. Foi na revolta dos Fuzileiros Navais, Um Menino Caipira que se fez Monge [ Dom Joaquim Grangeiro de Luna ] Notas sobre o tio Monge, escritas por Pe. luna, Missão Velha - 1979chamada revolta da chibata, em dezembro de 1910. Convém anotar um pormenor daquele acontecimento.

O Exército requisitou o prédio do mosteiro para daí fazer fogo aos revoltosos, que estavam entrincheirados na ilha das cobras. Como era toda prudência o abade deu ordem à comunidade para se transportar para o mosteirinho do alto da Boa Vista, casa ainda hoje destinada ao repouso semanal dos monges do Rio. Mas D. Gerardo Van Caloen ao avisar que a comunidade se transportasse para a Tijuca, disse ainda que ia ele mesmo ficar no mosteiro e que seria conveniente que algum outro ficasse também, mas não indicou a quem fazia este apelo. Foi quando D. Joaquim se ofereceu espontaneamente para ficar. E era lógico Em se tratando de zelar pelos interesses do Mosteiro ele sempre estava disposto. Ele podia muito bem Ter subido com os outros sacerdotes e clérigos para alto da Boa Vista e ninguém o podia censurá-lo, visto como o Dom Abade não o convidou pessoalmente, e ele Dom Joaquim sentia desmaio ao simples fato de ver sangue derramado, mas era o velho mosteiro do seu sonho, a razão única do seu viver no momento que estava precisando da sua ajuda e sendo assim ele não media sacrifícios: apresentou-se e ficou realmente com o Abade para os cuidados necessários do mosteiro e dos soldados.
A data daquele acontecimento foi 10 de dezembro de 1910. O Ataque começou às 5 horas da manhã. Todos pensavam que os da Marinha se rendessem logo, que seria poucas horas de luta, mas eles estavam bem aquartelados e fizeram ma resistência heróica, resultando daquela greve e serem abolidos da marinha os castigos físicos da palmatória e do chicote. Às dez horas avisaram a D. Joaquim que no segundo pavimento estava se dando um começo de incêndio saia fumaça duma cela fechada. O Jovem Monge convidou então um Um Menino Caipira que se fez Monge [ Dom Joaquim Grangeiro de Luna ] Notas sobre o tio Monge, escritas por Pe. luna, Missão Velha - 1979
empregado português, que havia pouco, chegara ao Brasil por termo da revolução de Cremona que rebentaram com a proclamação da República em Portugal. No momento em que abria a porta, ouvia-se um estampido e D. Joaquim viu desaparecido o pobre português que estava a seu lado, verificando que o seu hábito estava inteiramente ensangüentado. Sua mão direita estava ferida, mas ele achava Ter sido atingido em mais parte do corpo, porque não era possível que somente de sua mão perdesse num momento tanto sangue. Era o português que havia sido atingido pelo estilhaço de uma Granada, ficando reduzido a pedaço. Da mão direita de D. Joaquim foram decepados dois dedos, o indicador e o médio, mas graças a Deus, não foi atingido senão nesse local. Conduzido para o Hospital Militar e tratado como ferido de Guerra, podia voltar novamente ao mosteiro no dia 10 de fevereiro de 1911, trazendo consigo aquele sinal que
sempre o distinguia: Sua mão direita mutilada a serviço da pátria de Deus. Felizmente habituou-se com facilidade a todo trabalho, com a mão defeituosa, dizendo mesmo que aqueles dedos não lhe fizeram falta e que os iria encontrar na ressurreição do corpo. Escrevia letra aprumada e bem feita , tão legível como se nada tivesse acontecido


Cearense que nunca negou a sua a sua origem na cidade do Rio nas primeiras décadas deste século, embora envolvido numa atividade ao mesmo tempo e oculta aos olhos do mundo. D. Joaquim teve o Dom de fazer-se influente no Mosteiro, com seu alto espírito de serviço aos irmãos ao mesmo tempo não faltar com assistência possível aos seus parentes e amigos do Ceará,
Absorvido como era pelos encargos dentro daquela casa que ele desenvolveu com tanta prudência, doçura e sabedoria, não deixava de estar presente ao seu povo humilde do Ceará, que ele pode visitar bem poucas vezes, mas que conhecia um por um com a sua larga e interessada correspondência pelo Correio. No meio de suas grandes Como prior e administrador do mosteiro por mais de 20 anos encontrava tempo para escrever pessoalmente as suas cartas, que eram jóias de redação onde transparecia a beleza de sua grande alma de sacerdote. E todos o parentes o tinham como o melhor de todos os conselheiros e o mais sábio de todos os mestres. Lembro-me tanto das cartas à minha mãe, sua irmãzinha Santana. Como ele se interessada porque houvesse em nossa casa espírito cristão, amor ao trabalho e interesse pelos estudos.

Remetia livros e revistas sérias e recomendava que lêssemos, indicando muitas vezes os assuntos mais interessantes E isto sem nem sequer conhecer pessoalmente os sobrinhos, pois somente três vezes durante esses 67 anos de sua vida de monge, ele veio ao ceará: em 1914, 1922 e 1948 sendo que da primeira vez em 1914 não
pode chegar ao Ceará, sendo obrigado a voltar de Quixadá, em virtude da revolução de Juazeiro contra o governo Franco Rabelo. Posso dizer sem temer nenhuma dúvida que foram "as cartas " e as lembranças daquele bom e piedoso tio que despertaram em mim a vocação de sacerdote – Pe. Francisco Luna Tavares. Ref 01 ) Um Menino Caipira que se fez Monge ( Dom Joaquim Grangeiro de Luna, Notas sobre o tio Monge escritas por Padre Luna- Missão Velha -1979 .